terça-feira, 6 de março de 2007

O que está a acontecer na universidade galega, por cima e por baixo

Reproduzimos o artigo assinado polo companheiro Daniel Cao, publicado em galizalivre.org. Boa leitura!

Depois das enormes mobilizaçons contra a Lei Orgánica de Universidades, que durante os anos 2001 e 2002 percorrêrom as aulas e ruas da Galiza, o movimento estudantil pareceu ficar condenado ao ostracismo, materializado como desafecçom e desmobilizaçom política geralizada entre as estudantes galegas. Nom se sabe se a causa pode ser a incursom no processo de tranqüilismo social após a vitória do PSOE em 2004 ou simplesmente a ausência de agressons gritantes contra o estudantado.

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A última das causas apontadas é mais do que falsa, já que nom só há agressons contra o estudantado senom que nestes momentos está a germolar umhas das maiores da História e que porá fim a séculos e séculos desta instituiçom, até hoje pública. Nom é demagógica esta afirmaçom, já que o projecto conhecido como Espaço Europeu de Educaçom Superior recolhe entre outras cousas a livre entrada do capital privado nas Universidades; este materializa-se em forma de bolsas-empréstimo, másters ou simplesmente investimentos de futuro. Isto é mais umha mostra da falta de limites e horizontes da democracia liberal, que nom duvida em incluir no seu projecto de implantaçom do capitalismo selvagem a instituiçom educativa por excelência.


A entrada do poder privado neste órgao conleva umha clara mudança funcional para a instituiçom; se esta antes tinha, entre outras, como funçom principal ser canteira de científicos e sem dúvida do que se conhece como ‘saberes críticos’, elemento indispensável face à criaçom dum capital social e dumha sociedade civil compacta passa agora a ser umha fábrica de trabalhadoras. Nom trabalhadoras de qualquer tipo, senom precárias com todas as características que tem este tipo de trabalhadora. Desde a exploraçom pura e dura (temporal e economicamente falando) à multifuncionalidade (trabalho em distintos lugares e com distintas funçons sem ter que ver nemgumha delas com o estudado).

A primeira delas, a exploraçom temporária vem pola implantaçom do conhecido como ECTS, que traduzido ao galego seria Sistema europeu de transferência de créditos, mediante o qual o antigo sistema de créditos (proporcional às horas de aulas) passa a ser proporcional às horas de trabalho individual, polo que umha estudante média deveria, como mínimo, de 40 horas semanais, com o qual a implantaçom do pós-fordismo na universidade é total, já que as estudantes terám umhas jornadas "laborais" equivalentes às que estes sistema lhes tem preparadas para quando se titularem. Nom se pode deixar de mencionar que com estas jornadas laborais as redes sociais entre estudantes vam caminho de desaparecer, com tudo o que isso conleva: individualismo, deterioramento brutal do tecido associativo, etc…

Quanto à multifuncionalidade, vem imposta pola divisom que o plano europeu de Educaçom Superior tem previsto, já que parte as titulaçons em duas partes: Grau e Posgrau. O primeiro deles estenderá-se durante os três primeiros anos de carreira, e nele ministrará-se umha formaçom totalmente geralista face a dar umha saída laboral quase imediata (e precária) às estudantes, daí a legenda estudantil de ‘nem fábrica de precárias nem escola de elites’.


Dizemos elites porque o segundo desses fragmentos em que fica dividida a titulaçom, o posgrau, terá um preço claramente inalcançável para umha estudante sem trabalho. E será escola de elites já que só aquelas que puderem pagar um posgrau optarám a um trabalho medianamente qualificado. A soluçom face a achegar o posgrau às familias de mais baixo poder aquisitivo é o conhecido como ‘bolsa-empréstimo’ que substitui as tradicionais bolsas entregadas polo Ministério da Educaçom e Cultura.

Isto criará o inaudito fenómeno de pessoas menores de 23 anos totalmente hipotecadas e além obrigadas a trabalhar para o próprio banco se nom querem estragar os anos passados entre livros e aulas.


Cumpre analisar a resposta que isto está a ter. Vai em funçom ao tipo de implantaçom que as distintas universidades utilizam. Por exemplo, na Grécia o governo do social-democrata Karolos Papoulias, perante a impossibilidade de acoplar o seu sistema educativo ao Processo Europeu de Integraçom, já que as leis gregas tenhem totalmente ilegalizado o ensino privado, decidiu-se reformar a Constituiçom para permitir-lhe o passo, com o qual a soberania popular grega fica em maos da OMC, bancos...

No caso do Estado Espanhol, a implantaçom está sendo claramente às escondidas, de facto os últimos inquéritos publicados por distintos jornais apontam que até 90% do estudantado afirma nom conhecer este processo. A consequência clara disto é umha desmobilizaçom preocupante, já que se este modelo cristalizar encontraremo-nos perante um quadro bastante pior do que a própria LOU impunha.

Sem a mesma intensidade que na Grécia, no Estado Espanhol está-se a reorganizar o movimento face a luitar contra o processo Basco, Países Cataláns e Madrid som por enquanto os territórios em que se está a desenvolver um movimento antiBolonha com um bocado de força e repercusom.


No âmbito galego, a referência é claramente a Universidade de Compostela a que conta com um maior número de colectivos contrários a este fenómeno mercantilizador. Nom obstante, nom seria justo deixar de lado que foi a organizaçom estudantil independentista AGIR quem há tempo que começou a denunciar a problemática e mobilizar-se num momento em que o desconhecimento devia ser como mínimo de 99%. Actualmente até 10 faculdades da USC (que tem 18) contam com assembleias abertas de estudantes; estes colectivos independentes e plurais estám a desenvolver um processo de reconstruçom dum dos movimentos fundamentais de cara a artelhar umha sociedade civil combativa. O fenómeno que foi a base fundamental do movimento antiLOU ressurge em 2006 através da iniciativa dum grupo de estudantes que, estendendo o seu modelo de organizaçom, chegam a criar a Coordenadora de Assembleias de Estudantes da USC que se mostra como um dos projectos mais ambiciosos do movimento galego actualmente.


A Coordenadora está a organizar diversas mobilizaçons para o curso 2006-2007; sirva como esclarecimento que esta nom surge só como resposta à prostituiçom da Universidade senom também como organismo em que as assembleias encontram um ponto de encontro para denunciar a profunda crise em que a USC está mergulhada. Dum ponto de vista movimentário este conflito cria um pouso anti-capitalista fundamental de cara a futuras lógicas de luita.

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